terça-feira, 3 de julho de 2012

MEIO AMBIENTE E CAVALOS.


Meio ambiente e cavalos

A propósito da Rio+20

As discussões na Rio+20 estão centradas em três temas principais: o aquecimento global, a poluição nas cidades e a crescente escassez dos recursos naturais, com a universalização do desenvolvimento econômico. As origens do aquecimento global, observado no período mais recente a partir de 1979, motivam grande debate científico, contrapondo os que não encontram evidência científica suficiente para atribuir o fenômeno à ação humana àqueles que julgam detê-la.
A poluição urbana decerto tem a ver com a ação humana. Ninguém quer poluir, mas o fato de produzirmos e de nos locomovermos com a tecnologia atual causa consequências danosas, mesmo não desejadas por nós.
A universalização do desenvolvimento econômico, que retira da miséria bilhões de seres humanos e lhes proporciona uma vida mais digna, tem efeitos colaterais negativos sobre o meio ambiente. Um deles é a crescente "escassez" de recursos naturais. A exaustão desses recursos, que nada deixaria para as futuras gerações, provoca indignação em muitos bem-pensantes, para quem gerações inexistentes têm mais valor do que as gerações de miseráveis contemporâneos.
O "pensamento único" dominante no ambientalismo descrê da capacidade dos seres humanos de encontrar soluções para os problemas por eles mesmos criados – e então cerceia e substitui a inventividade e a liberdade de empreender pelo planejamento e pelo controle burocrático do Estado na solução desses problemas.
Essa arraigada crença se baseia em uma premissa equivocada – a de que as tendências que observamos hoje se projetarão inevitavelmente no futuro, até o desastre irreversível. A hecatombe só será evitada se nos acomodarmos às prescrições dos pessimistas, que se arvoram o monopólio do conhecimento.
Contudo, as profecias apocalípticas simplesmente não se realizaram. Exemplo: em 1975 a revista “Newsweek” publicou matéria de capa mostrando que a evidência científica então disponível indicava uma tendência gradativa ao esfriamento da Terra, a partir de 1940, e que se imaginava se projetaria indefinidamente no futuro. O texto indicava que as consequências do esfriamento seriam dramáticas por causarem drástica queda na produção de alimentos, com sérias implicações políticas em muitos países. Nada disso ocorreu, e hoje se acredita que exista uma nova tendência ao aquecimento, iniciada em 1979.
Outro exemplo: a grande "crise da bosta de cavalo" ocorrida na virada do século 19 em grandes cidades, como Londres e Nova York, que dependiam de milhares desses animais para o transporte de mercadorias e pessoas. Essa tropa produzia um imenso volume de cocô – em média, entre 7 e 15 quilos diários por cavalo. Em Nova York, os 100 mil cavalos da cidade produziam em 1900 mais de mil toneladas diárias de estrume, a serem recolhidas e eliminadas.
Em 1894, um colunista do “Times” londrino previu (por certo com base nas tendências então observadas) que em 50 anos as ruas de Londres estariam sepultadas sob três metros de bosta. A esse custo para a sociedade adicionava-se o custo privado de estabular e alimentar a crescente tropa de cavalos, devido ao crescimento da população londrina.
Nenhuma solução para o problema foi encontrada na primeira conferência internacional de planejamento urbano, realizada em Nova York. Contudo, a civilização urbana não pereceu enterrada na bosta. Milhões de cavalos foram substituídos por veículos a motor, quando o custo do uso dos animais tornou insustentável seu emprego em meios de transporte.
A combinação de um sistema econômico que privilegiava a inventividade e o empreendedorismo de indivíduos como Henry Ford, que buscavam o lucro, evitou a catástrofe. Esse sistema econômico se baseava em preços livremente formados no mercado, que sinalizavam a um só tempo a escassez de recursos e as oportunidades de ganho privado com a introdução de novas tecnologias e produtos.
A Idade da Pedra não acabou pela escassez de pedras, mas pelo progresso tecnológico – a metalurgia tornou a pedra obsoleta como instrumento de trabalho e de defesa. Não houve a grande crise da sílica, da mesma forma que a grande crise da bosta de cavalos jamais ocorreu.
As pessoas eventualmente incorporarão a poluição nas grandes cidades ao custo de nela viverem – e demandarão meios de transporte mais limpos. Os incentivos de mercado acabarão por gerar, a preços competitivos, novas tecnologias. E novos recursos substituirão os que forem se tornando mais escassos – não porque tenhamos afeto por eles, mas porque sua crescente escassez os tornará mais caros em relação a recursos alternativos.
Quanto ao aquecimento global, até que haja consenso entre os que realmente entendem do assunto, prefiro continuar pensando que atribuir aos humanos a origem do problema é uma soberba semelhante à de Ícaro, que pretendia voar até o Sol com suas improvisadas asas.

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